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Como envelhecer melhor? Conversa com Candice Pomi, especialista em longevidade

Como envelhecer melhor? Conversa com Candice Pomi, especialista em longevidade

Por Bárbara Spaulucci Christan

Atualizado 05/04/23

“Se a velhice é um destino, por que a gente não tenta aprender com as pessoas mais velhas que nós?”


A frase conhecida de Candice Pomi, mentora em longevidade e convidada da live do dia 30 de março de 2023, no perfil Instagram da Bisyou (assista aqui), carrega crenças de gerações em uma sociedade que, até os dias de hoje, não aprendeu a falar, pensar e a viver a maturidade da melhor forma.


Psicóloga de formação e especialista em gerontologia, Candice sempre teve uma forte conexão com pessoas mais velhas, especialmente a avó, que viveu até os 98 anos e a inspirou de maneira positiva a estudar e buscar mais informação a respeito do envelhecimento. Confira abaixo os destaques da conversa:


Encarando a velhice

Como falar velhice  - no melhor sentido da palavra - sem ainda estar passando por ela? Uma das primeiras perguntas respondidas pela psicóloga traz uma reflexão importante: se é para a velhice (no melhor sentido da palavra) que a gente vai, por que não queremos saber a respeito dela?


Vivemos numa sociedade que enaltece a potência da juventude, mas não conhece a potência da maturidade. Atravessar as gerações e idades ao longo da vida traz muito conhecimento, e precisamos entender o envelhecimento do ponto de vista dos nossos quatro corpos: corpo físico, intelectual, emocional e espiritual.


Os quatro tipos de corpos

Com o passar dos anos, é natural o processo de decréscimo do corpo biológico, no entanto, ainda podemos continuar crescendo nos outros corpos, se continuarmos buscando essa evolução. A parte social, emocional e intelectual não precisa decair junto com o físico.


“Na cultura ocidental, especialmente no Brasil, a beleza está ligada diretamente com a questão física e não sabemos reconhecer a beleza em diferentes fases da vida. Culturalmente evitamos falar disso porque aprendemos nos meios midiáticos (televisão e revistas) que ser belo é ser jovem. Mas passou da hora de aprender a reconhecer o que é belo aos 30, aos 40, aos 50 e assim por diante. Precisamos criar e reivindicar produtos de pele e maquiagem que abracem as características da pele madura”, disse ela.


O fato é que não podemos focar apenas em cuidar do corpo físico, não existe um pilar da vida menos importante que o outro, precisamos alimentá-los e balanceá-los. E, para cada prato, há características que devemos manter para garantir uma velhice saudável e feliz:


  • No âmbito físico, precisamos ter um corpo funcional, que nos permite levantar, abaixar, amarrar um sapato e nos garanta independência e mobilidade;
  • Já o nosso cognitivo precisa estar em forma também: nosso cérebro precisa estar ativo, sempre aprendendo coisas novas, deixando a preguiça de lado e sem fazer as coisas no “piloto automático”;
  • No setor emocional, precisamos manter uma rede de apoio, relações saudáveis amorosas, de amizades e de família para nutrir bons sentimentos e ajudar a passar pelas diversas fases da vida;
  • Por último, o lado espiritual. Não é preciso ter uma religião, mas manter uma conexão com seu eu superior e com energias que te fazem sentir melhor, especialmente em tempos difíceis.


Ageless ou ageful?

Para falar de envelhecimento, hoje contamos com várias nomenclaturas, e expectativa - e alegria - de Candice Pomi é que surjam cada vez mais. Isso significa que estamos interessados em saber como vamos envelhecer, algo que nas gerações anteriores causava medo e desinteresse.


A verdade é que não existe termo correto, e sim um termo que as pessoas melhores se conectam em relação à maturidade e a percepção delas de como o tempo está passando. Ageless, do inglês “sem idade”, caracteriza quem não sente uma conexão com o tempo e sente a juventude em todas as fases da vida, sem achar que a idade influencia. 


Já o termo ageful, do inglês “idade completa”, fala sobre pessoas que sentem que a idade as define, mas não as limita, pois cada ano a fez ser quem ela é hoje, e que faz parte da personalidade e de quem ela é.


Ainda há os perennials, do inglês “perenes”, adultos que não se enquadram nas categorias de idade, estão sempre aprendendo e em busca da diversidade, mesclando gostos e hábitos de diversas gerações.


“O legal é que hoje estamos criando vários termos para diferentes formas de envelhecer. Aquele estereótipo dos avós vendo TV, fazendo crochê, dentro de casa, já caiu faz tempo. Tem milhares de formas de envelhecer, assim como tivemos milhares de formas de adolescer”, completa Candice.


Menopausa: luto e renascimento da mulher madura

Na jornada do envelhecimento, a mulher se depara com várias mudanças, além da corporal. A menopausa é um luto: o ciclo reprodutivo se encerra e a mulher não é mais capaz de gerar filhos, ela não é mais considerada produtiva. E além das mudanças biológicas, vem a mudança do entorno dessa mulher e a reflexão sobre o que foi construído nessa primeira metade da vida.


E, no momento em que ela se pega com o corpo não sendo mais como ela queria que fosse, isso chama atenção para outras coisas que não estavam tão bem. “A sociedade faz vista grossa para o que não é visto, e o que é visível, na superfície, é a parte física. Quando o físico não é mais a blindagem para o seu eu, você entra em contato com o luto de não ser mais quem você era e com outras coisas que não estavam tão boas”, esclarece a pesquisadora.


Mas nós é que estamos e devemos mudar essa percepção da produtividade feminina, e responder a uma pergunta muito importante: como eu vivo meus lutos? Vivo aos poucos e cuido de cada um ou eles vêm todos de uma vez? Quem adiou a conversa de “minha vida está indo aonde eu quero?”, precisa refletir e agir hoje sobre qual a velha que quer ser.


Mente ativa, corpo são

Para além de alterações hormonais e físicas, é preciso manter a mente da mesma forma que buscamos manter o corpo. Por ser um órgão preguiçoso por natureza, o cérebro busca poupar energia a todo custo. No entanto, quanto mais o estimulamos com coisas novas, mais ele trabalha e faz novas conexões.


“O corpo e cérebro estão intimamente ligados. Vários tipos de demência podem ser postergadas com exercício físico, não fumar e uma boa alimentação. Muitas pessoas enfrentam a diminuição do trabalho cerebral muito jovens, com 50, 60 anos, e quando você aprende coisas novas, naturalmente você retarda esse processo. Se a gente usa o quociente intelectual, emocional e espiritual na primeira metade da vida, na segunda metade é a curiosidade que mantém a gente ativo”, explica Candice.


Se atualizar sobre as novidades e tecnologias do mundo contemporâneo nos faz estar em constante evolução e aprendizado, e sempre buscando saber mais. Para estar no mundo, hoje, não precisamos saber de tudo, mas precisamos entender as mudanças que nos envolvem e manter a postura curiosa de um iniciante em qualquer assunto.


O papo, que durou cerca de uma hora, ainda falou das diferenças de envelhecimento do homem e da mulher, tema do próximo post do blog. Mas se não aguentar a curiosidade, você pode assistir à live completa aqui.

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